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O DESAFIO DA PRODUTIVIDADE NO TRABALHO NO BRASIL

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Melhoria da produtividade no trabalho é condição para a competitividade da economia brasileira e geração de empregos de qualidade, mas neste mês de maio, o trabalhador e as empresas não têm muito para comemorar.  


Estudo do FGV – IBRE, publicado no seu Boletim Macro – abril 2025, revela as enormes dificuldades de evolução da produtividade da economia brasileira nos últimos anos. Dados e informações do estudo são tomados emprestados, com o devido crédito ao FGV IBRE.

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O Gráfico 1 demonstra situações atípicas da evolução da produtivi-dade em um período mais recente, com um forte crescimento em 2020 (de 12,7%), seguido de quedas representativas em 2021 (-8,1%) e em 2022 (-4,4%), anos de forte influência da pandemia do Covid 19, basicamente anulando os ganhos de 2020. Contudo, tais dados (2020, 2021 e 2022) demandam atenção especial, visto que se referem a uma situação atípica no mercado de trabalho atribuída à pandemia do Covid 19, quando em 2020, com um menor contingente de trabalhadores no campo, nas fábricas e nos escritórios, o número de horas efetivamente trabalhadas foi significativamente menor. Com a volta ao trabalho nos anos seguintes, o número de horas efetivamente trabalhadas voltou a crescer, o que explica a queda da produtividade média (horas trabalhadas – produção). 2023 foi um ano de retomada do crescimento da produtividade no trabalho, de 2,3%, mas 2024 foi marcado por uma evolução de apenas 0,1%. Os dados são do agregado dos setores econômicos, cujos desempenhos foram particularmente distintos.

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Pelo Gráfico 2, observa-se que a Agropecuária tem sido o principal setor responsável pelos ganhos da produtividade ao longo do período de 2017 a 2024, com destaque o desempenho em 2023, com a produtividade no trabalho crescendo 22,3%. Já em 2024, o crescimento da produtividade do setor foi de apenas 1,6%, bem inferior ao observado em 2023. Por outro lado, nota-se desempenhos representativamente inferiores (e até mesmo negativos) ao longo dos anos 2017-2024 na Indústria, como também nos Serviços. Na Indústria, as perdas de produtividade acumuladas em 2021 e 2022 (-8,9 e -4,7%) superaram os ganhos de 2020. Já 2023 foi um ano de ganho (de 2,1%), mas voltou a ser negativa em 2024, de -0,5%.

Por sua vez, o setor de Serviços teve perdas menores no acumulado de 2021 e 2022 (-7,9 e 5,1%, respectivamente) em relação ao ganho de 14,3% em 2020. Contudo, o setor teve um crescimento de produtividade menor em relação aos demais setores, com uma evolução de apenas 0,5%, ficando a produtividade estagnada em 2024.


Dados do Estudo do FGV IBRE que comparam o crescimento médio anual da produtividade no trabalho em um horizonte maior demonstram a enorme dificuldade do país na promoção da produtividade. A Tabela 1 mostra que o crescimento médio anual da produtividade no Brasil, entre 1995 e 2024, foi de 0,8%/ano, quando a agropecuária foi o único setor que apresentou crescimento robusto no período, de 5,8%/ano. Enquanto, a Indústria teve uma regressão em média 0,3%/ano e o setor Serviços teve um crescimento médio de 0,2%/ano.


Tabela 1 Crescimento médio anual da produtividade por hora trabalhada

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O desempenho da produtividade da Agropecuária ao longo do período 1995-2014 (embora com desaceleração no crescimento médio, mas ainda no campo positivo) explica os avanços da competividade do setor no mercado doméstico como no mercado internacional. O investimento em tecnologia e inovação, como a otimização de recursos e a sustentabilidade ao longo da cadeia produtiva, a mecanização do campo e a modernização da frota de tratores agrícolas, foram os fatores que mais contribuíram para o crescimento da produtividade do setor. Assim, a relação hora trabalhada-produção, apoiada por uma mão-de-obra mais qualificada (especialmente pelas novas tecnologias), explica a evolução dos índices apresentados.


Já na Indústria, os índices de produtividade foram também positivos em período relativamente longo (cerca de 16 anos), nos anos de 2003 e 2019, quando a indústria brasileira foi marcada por um cenário de crescimento, em especial em segmentos de maior padrão tecnológico e de produtos de maior valor agregado, como os da tecnologia da informação, telecomunicação e automóveis, período que a indústria automobilística atraiu multinacionais e novas tecnologias. Porém, tal desempenho se perdeu nos anos seguintes, e mesmo com a produção industrial de 2024 acima (1,3%) do patamar pré-pandemia de covid-19 (fev-2020), a Indústria ampliou a sua relevância na geração de empregos, quando fechou o ano com um crescimento de mais de 16,0% na geração líquida de empregos, em relação a 2023. Esse foi o maior incremento entre os setores da economia, o que pode explicar a queda de 0,5% na produtividade do trabalho em 2024, mesmo quando a Indústria tenha crescido 3,1%.


O setor de Serviços, ao longo do período 1995-2024, embora tenha apresentado os índices de maior estabilidade, tem se demonstrado como de baixa capacidade de promoção de melhorias. A produtividade do setor pode variar significativamente entre os diferentes segmentos do setor de serviços (Tabela 1), mas há características básicas do setor que condicionam o seu desempenho. Entre elas, a intangibilidade (produção e consumo imediatos e indissolúveis), o que diferencia das empresas que lidam com produtos onde a gestão estratégica de estoque e distribuição podem contribuir para a produtividade, mesmo que exigem mais investimentos do que as de serviços. Assim, por exigir investimentos iniciais menores, o setor Serviços é composto predominantemente de empresas de menor porte e de trabalhadores autônimos. A carência de capital (característica comum das micro e pequenas empresas) também dificulta o acesso à novas tecnologias (incluindo as de gestão), essenciais para a evolução da produtividade. Assim, o setor de Serviços, que concentra mais de 70% das horas trabalhadas e responde por quase 60% do PIB (2024), representa um enorme desafio para as políticas públicas de desenvolvimento.


A Indústria, por sua vez, o segundo setor no conjunto da economia brasileira, que vem perdendo posição de relevância no PIB – de quase 36% do PIB em 1985 para cerca de 21,0% em 2024 (IBGE) - tem os seus índices de produtividade também decrescentes. Porém, o setor tem um papel estratégico no desenvolvimento econômico e social do país, visto que além de ser responsável pela geração de mais de 20% dos empregos, é o setor com maior potencialidade de geração de empregos de maior qualidade pela produção de produtos de maior valor agregado. Por mais, pelos efeitos que produz em todos segmentos da economia, com o fornecimento de produtos e tecnologias essenciais para o comércio, serviços, transportes e a agricultura. Porém, somente com uma política industrial capaz de tirar o país do grupo das economias mais fechadas e menos competitivas (o país ocupa o último lugar no mais recente ranking de competitividade industrial elaborado pela Confederação Nacional da Indústria – CNI) e  capaz de atrair investimentos estrangeiros massivos (e se beneficiando assim de novas tecnologias), será a Indústria capaz de elevar representativamente os seus índices de produtividade, essenciais para a geração de empregos de qualidade ao trabalhador brasileiro.

No entanto, o Brasil é um país que inova pouco em relação a outras economias. Em 2024 o país ocupou a 50ª posição entre 133 países contemplados pelo Índice Global de Inovação (IGI) 2024 da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Ainda assim, o país caiu uma posição em relação ao ano anterior.


O reduzido nível de inovação tem levado o país a um ambiente de baixa competitividade e em queda. Em 2024 o país caiu duas posições no ranking de competividade produzido pelo Fórum Económico Mundial (World Economic Forum - WEF), passando da 60ª para 62ª posição entre as 65 economias pesquisadas. Por mais, o país investe não mais do que 1,2% do seu PIB em ciências e tecnologia, abaixo da média mundial (estimada em 1,7% do PIB) e muito aquém de países desenvolvimento onde os investimentos médios giram entre 2,0 a 4,0%.  

Até lá, o trabalhador da indústria brasileira deverá se conformar com empregos com remuneração média mensal não muito superior ao equivalente a US$ 550,00 (R$ 3.300,00), enquanto o trabalhador chileno na indústria (por exemplo) recebe cerca de US$ 2.300 mensais e o americano recebe cerca de US$ 5.670/mês (Trading Economics).

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