BRASIL NO COMÉRCIO GLOBAL. UM PAÍS DE CONTRADIÇÕES
- E.Moreno
- 12 de ago.
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Brasil, um país que quer liberdade para as suas exportações, mas se mantém entre as economias mais fechadas do mundo.
Estudo do Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), grupo que realiza debates e elabora estudos propositivos sobre os principais desafios que afetam o país, mostra que o grau de abertura comercial da economia brasileira aumentou nos últimos anos, mas conclui que o Brasil ainda é uma nação com uma economia considerada fechada (G1).
O estudo aponta que o grau de abertura da economia — medido pela soma das exportações e importações de bens e serviços como proporção do PIB - indica que o país se encontra entre as economias mais fechadas do mundo, especialmente quando comparada com as de outros países em desenvolvimento. No caso, o México (80%), Índia (43,8%), Vietnã (174%) e Indonésia (39,5%).

Dados de 2023, do Banco Mundial, também mostram que o Brasil é uma economia relativamente fechada ao comércio com o resto do mundo. Com um índice de 33,85%, o Brasil ocupa posição inferior à média mundial, de 58,61%, e à média da América Latina e Caribe (onde o Brasil tem o maior peso), de 48,76%.
Também em contraste, o índice dos Estados Unidos, de 24,90%, o menor entre os países selecionados. Os autores do estudo do CDPP observam, entretanto, que os EUA, apesar do baixo grau de abertura, o país ocupa posição de maior comprador mundial e segundo maior exportador. "É verdade que, em geral, países maiores, em termos de tamanho do PIB, tendem a ser relativamente mais fechados. Há uma razão intuitiva para isso: economias maiores teriam menos necessidade de transacionar com o resto do mundo pois seu grande mercado interno garantiria a escala necessária para produzir parte significativa de seu consumo internamente", diz o estudo.
Ainda assim, os autores argumentam que o reduzido grau de abertura comercial da economia brasileira não pode ser explicado pelo seu tamanho, pois o Brasil, sendo a décima primeira economia do mundo (2023), mas ocupa o 25º lugar no ranking dos maiores importadores e o 23º lugar no ranking dos maiores exportadores mundiais.
Por mais, o Brasil, que sempre defendeu o multilateralismo nas relações comerciais, tem se demonstrado mais propenso a reforçar as suas relações comerciais em razão de direcionamentos geopolíticos e/ou de maior afinidade ideológica. Não se nega a importância de acordos multilaterais entre grupos de maior afinidade econômica, mas esses acordos impõem riscos maiores de fechamento e de protecionismo. Javier Milei, percebendo isso, fez críticas abertas ao protecionismo do Mercosul durante reunião do bloco comercial no começo julho, na Argentina. Os blocos comerciais também seguem uma tendência de nacionalismo que se intensificou com os problemas da cadeia global de suprimentos, durante e pós a pandemia do Covid19.
Do lado brasileiro, o surgimento da “Nova Indústria Brasil – NIB” que, embora tenha como propósito formal da promoção da presença qualificada do país no mercado internacional, foca essencialmente na “indústria nacional” e no poder do Estado como agente de desenvolvimento. Assim, não foram por acaso as palavras da ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck ao citar que “a iniciativa representa um passo importante no processo de reconstrução do Estado, pois traz a política industrial de volta à centralidade das políticas públicas no Brasil”. Uma referência ao modelo estatal de como fazer uma política industrial fundada em um elevado protecionismo que só colabora para o fechamento de fronteiras comerciais, onde o Brasil tem uma posição de destaque entre as economias mais fechadas do mundo.
Economias fechadas ideologicamente representam menores oportunidades comerciais, mas sobretudo a de promover um modelo de importação que traga consigo novas tecnologias para o país, como o caso da indústria automotiva, entre outras. Nesse sentido, vale considerar que a indústria brasileira vem mantendo um período longo de perda de produtividade, e consequentemente de competitividade, o que prejudica o país nas suas relações comerciais, mesmo em grupos mais fechados. Por outro lado, a importação de produtos tecnológicos pode ser uma estratégia essencial para elevar a produtividade, bem como a competitividade para poder explorar as oportunidades que o mercado global oferece.
De acordo com dados recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC), o valor total das importações de tecnologias avançadas atingiu US$ 3 trilhões em 2024, representando um aumento de 10% em relação a 2023, sinalizando que os países estão buscando na tecnologia a base de seus desenvolvimentos. Por outro lado, os principais fornecedores de produtos tecnológicos para importação continuam a ser a China, os Estados Unidos e a Alemanha. A China lidera com uma participação de mercado de 35%, seguida pelos EUA com 25% e a Alemanha com 15%, países que se destacam pela inovação contínua e capacidade de produção em larga escala (OMC/e-commerce). Enquanto a China lidera as tecnologias de consumo, nos Estados Unidos o foco é em IA e software e a Alemanha lidera em automação e robótica, com ênfase em engenharia de precisão e soluções industriais avançadas (e-commerce).
Afastar desses mercados e de outros de relevância tecnológica, como Japão (automotiva, robótica, semicondutores e eletrônicos), Taiwan (líder mundial na produção de chips) e Coréia do Sul (tecnologia da informação e comunicação), é se privar de ter acesso a tecnologias de ponta, essencial para ganhos de produtividade, competividade aos produtos brasileiros e, em especial, a elevação da qualidade dos empregos locais.
Por fim, acreditar que o antagonismo do Sul Global x Norte Global, baseado em alinhamentos ideológicos e geopolíticos, é o melhor caminho para o desenvolvimento para as nações do Sul Global é virar as costas para as oportunidades que o multilateralismo pode oferecer, pragmaticamente.
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